Não posso negar que uma das maiores expectativas que tive logo ao entrar na ESALQ era realizar parte de meus estudos fora do país. Na verdade, esta experiência soava como algo impreterível à minha carreira: uma espécie de diferencial à minha carreira profissional. Eu a via mais como um plus na formação curricular do que propriamente os frutos que colheria desta experiência. Por isso, sempre busquei editais abertos ou qualquer outra oportunidade de viagem ao exterior.
Confesso que estudar fora, infelizmente, não é um processo fácil. Tal dificuldade não advém do mérito acadêmico que se exige ou bem como à proficiência de línguas pedida. Creio que estes são os problemas mais fáceis de serem superados. A maior dificuldade para mim, sem dúvida alguma, foi lidar com a burocracia de todo esse processo. Por mais que a universidade se proponha a enviar seus alunos a outros países, ela infelizmente ainda não está totalmente preparada para isso. Era como se o corpo não correspondesse aos anseios da mente.
Superada às dificuldades após um longo processo de seleção que exigiu vigília e muita paciência, fui aprovado para, durante o 1° semestre de 2013, estudar na “Universitat de les Illes Balears”, em Palma de Mallorca, Espanha. Para aquele que é aprovado em qualquer edital, a sensação de felicidade e realização é igual, senão maior, do que ser aprovado no vestibular.
O êxtase somava-se à insegurança que emanava desta viagem. A ideia de ser um desconhecido e de estar completamente sozinho me despertou certo medo; medo que nunca antes havia sentido. No entanto, este receio se transformou no mais belo ensinamento, onde percebi que ali teria uma cidade, um país e um continente inteiro a ser descoberto; um local onde por ser exatamente um desconhecido eu me enchia de coragem e liberdade necessária para conhecer e vivenciar tudo aquilo que gostaria. Estava disposto a ser, como diria Charles Baudelaire, um verdadeiro “flâneur”: matriculei-me em aulas de espanhol e de cinema, bem como realizava passeios diários na cidade histórica, com o simples intuito de conhecer pessoas e vielas escuras. Estava livre para traçar, sobre os trilhos de minha intuição e do meu bom senso, um caminho autêntico.
Passada a ansiedade inicial pude, aos poucos, conhecer todos os intercambistas. Éramos um total de 120 alunos, onde somente 3 deles eram brasileiros. Isto me proporcionou um contato ímpar com diferentes culturas. Talvez soe a quem está de fora algo já banal sobre os benefícios de se fazer um intercâmbio. No entanto, somente quando se está dentro é que se pode contemplar os benefícios que se obtém com esta variedade cultural. Ora, se os limites do nosso conhecimento são os limites do mundo, é quando conhecemos outras identidades culturais que se valoriza o que sabemos, bem como percebemos como sabemos tão pouco. Particularmente, como estudante de economia, ter vivido na Espanha durante a grave recessão econômica que atingia o país foi algo de grande valor para a minha formação pessoal.
Com o fim dos 6 meses, que passaram mais rápido do que uma aula de cálculo, pude perceber que o grande valor de um intercâmbio vai além do que imaginei: não é simplesmente uma linha adicional ao nosso currículo, mas é um ponto crucial na vida de um estudante. É a partir dele que nos compreendemos melhor, que entendemos um pouco mais quem realmente somos, pelo que nos interessamos e qual a nossa posição neste mundo. Creio que qualquer um que aprender essas coisas não se contenta mais em saber o que já sabe; em viver na mesma rua; em estudar na mesma sala e com os mesmos professores. O intercâmbio, inevitavelmente, desperta o desejo do saber e do conhecer, que são, assim como a vida, infinitos.
Ao regressar à Piracicaba sentia enorme desejo em dar continuidade à busca de novas experiências. Através do Prof. Bacha do departamento de Economia da ESALQ, eu entrei em contato com o Prof. Werner Baer, da “University of Illinois at Urbana-Champaign”. Tínhamos uma linha de pesquisa similar, por isso perguntei-lhe se poderia terminar o meu TCC com ele nos EUA. É nesses casos que, por mais que a burocracia e o despreparo possam dificultar a realização de nossos desejos, a simpatia e a hospitalidade de alguns superam estes problemas. Com isso, no início de Agosto embarquei com destino aos EUA, onde, além de concluir o meu TCC, pude apresenta-lo a um grupo de 30 alunos e realizar algumas aulas sobre temas que quero estudar em meu mestrado.
Sou muito grato a essas oportunidades que tive durante a minha graduação, bem como às possíveis viagens que terei em breve. Porém, sei muito bem que nada disso teria ocorrido se muito tempo não fosse gasto na elaboração de documentos, na leitura de editais e em ouvir muitos “nãos”. Apesar de tudo, o trabalho que isto exige de um estudante é recompensado com o enorme aprendizado e com os amigos que se faz em uma viagem como essas. São coisas que nunca esquecemos, e que nos faz crescer como verdadeiros homens e mulheres. É como se em meio a um deserto de incerteza e insegurança nascesse uma flor de esperança, indicando o caminho da plenitude.
Grupo de intercambistas.
Pedro Frizo (Frigobar) – Formado em Economia pela ESALQ (2013).